domingo, 4 de outubro de 2009

Reflexões sobre a comunicação humana



*Marcos Bas


O ato de escrever, ou de se registrar acontecimentos e comentários, a respeito do momento em que se vive, é inerente ao homem desde os tempos primitivos de sua existência. Os escribas do antigo Egito, por exemplo, deixavam nos "papiros", um pouco da história que lhes era transmitida por autoridades ou os faraós da época. Escrever não é um processo difícil. Em princípio, todo ser humano tem condições para isso. Todavia, conseguir comunicar-se pela escrita e passar a mensagem real e verdadeira sobre determinado assunto é algo que exige muito esforço do escritor. Na verdade, é algo que flui pelo cérebro com simplicidade, pelo sangue do autor, pela emoção que deve ser isenta e se materializa pelas mãos, hoje em dia, por intermédio dos modernos instrumentos de escrever de que dispomos.

Contudo, não basta escrever bem ou comunicar-se bem pela escrita. É necessário que do outro lado haja seres que saibam ler, decodificar a mensagem e que, mais interessante ainda, estejam interessados em ler aquilo que se escreveu.

Sem leitura, sem leitor, a comunicação torna-se sem efeito, pela ausência de resposta ou qualquer outro modo de interação. Por isso, as críticas, respostas e qualquer outro meio de reação são necessários para que se possa estabelecer um processo verdadeiro de comunicação. E nesse processo todo é preciso que funcione sempre a educação boa. Ou seja, deve haver polimento no processo, tanto na mensagem original como na resposta a essa mensagem, mesmo que essa resposta seja uma crítica mais forte.

As palavras, tanto as de ida como as de volta, deveriam ser isentas de emoções violentas, avassaladoras. Certamente, o ser humano foi destinado ao mundo, veio até aqui para aprender. E esse aprendizado não é complicado ou difícil, bastando para isso lançar-se um olhar sobre a natureza que nos cerca. Tudo na natureza é sábio e funciona sempre nos momentos precisos, mostrando para nós, em muitos casos, ensinamentos de modos que podem até assustar e que mesmo assim não conseguimos quase nunca decifrar. E tudo porque o ser humano considera-se em geral o herói do planeta, o ser mais maravilhoso que chegou por aqui. O ser que destroi, sem dó nem piedade, sem planejamento ou sem medidas compensadoras, tudo que a natureza levou talvez milhões de anos para construir.

Como na linguagem escrita que vemos na imprensa, na literatura ou nos papéis em geral - e que muitas vezes não entendemos ou não fazemos um mínimo esforço para entender-, o homem também subestima a linguagem do Universo, da natureza, das plantas, das terras, das águas e, principalmente, dos animais. Ao contrário, o homem construiu o seu imenso palanque e do alto de sua tribuna tenta dominar tudo. Imagina-se cheio de poder, o próprio "deus" da matéria. Esquece-se, e nem vamos aqui falar de Deus, da grande força energética que circunda e circula pelo planeta, pelo cosmos. E que essa verdadeira força esquecida pode e pode tudo numa questão de minutos ou até de segundos.

Por isso é que, muitas vezes, o silêncio é necessário. Porque o discurso não é interessante a muitos, mesmo chato, não gera aquele papel ou metal que nos leva àquela considerada boa vida, ou não mobiliza porque não traz aquelas promessas sempre enganadoras. O silêncio é necessário também para que não haja cansaço, para que não fique acontecendo um pregão no deserto. Já que a maioria parece estar surda e com os pés flutuantes, o melhor discurso é mesmo a ausência de palavras. O resto é deixar acontecer.


*Marcos Bas - Brasília, jornalista, ex-repórter da Folha de São Paulo, Jornal de Brasília e de assessorias de imprensa de órgãos do governo federal.

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